Ativismo

Marcha pela Justiça Climática

Intervenção de Joana Guerra Tadeu no final da Marcha pela Justiça Climática do dia 7 de Novembro, em Lisboa.

Companheiras e companheiros,

O resumo do mais recente relatório do Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas não deixou espaço para dúvidas: os chamados “líderes” globais pastelaram tanto tempo em negociações de alvos, metas, objetivos e intenções, que vamos mesmo levar o planeta a aumentar a temperatura média global em 1,5 graus em comparação com os níveis pré-industriais.

É oficialmente tarde demais para tentar qualquer número abaixo deste.

Para os tais “líderes”, os que estão reunidos em Glasgow a discutir a nossa sobrevivência, a justiça climática não passa de uma questão de contabilidade. Desengane-se quem acredita que estão a tentar responder à pergunta “como adaptamos a economia ao clima e mantemos o aumento da temperatura média global abaixo do grau e meio?”.

Não.

A pergunta a que as Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas estão a tentar responder, pela 26ª vez desde que o organismo foi criado em 1992, é “quanto temos que pagar para a temperatura continuar a aumentar?”.

Nas ruas falamos de justiça. Na COP fala-se de mercado.

Nas ruas falamos de recursos. Na COP fala-se de oportunidades de investimento.

Nas ruas propomos ações concretas. Na COP continua a discussão sobre alvos, metas, objetivos e intenções que encobrem mecanismos de compensação de carbono que a única coisa que fazem é perpetuar as mesmas injustiças de sempre… mecanismos classistas, colonialistas, racistas e machistas!

Companheiras e companheiros, também sabemos contar:

Com mais grau e meio de temperatura média global teremos, em média, 2 meses de seca por ano; com mais 2 graus o tempo de seca duplica; com mais 3 graus os pratos da balança invertem-se e viveremos 2 meses por ano sem seca, e 10 sem conseguir produzir alimentos.

Com mais grau e meio de temperatura média global, o território devastado por incêndios florestais no Mediterrâneo aumentará 41% por verão; com mais 2 graus a área ardida aumentará 62% por ano; com mais 3 graus a área ardida duplicará a cada verão.

Manter o aumento da temperatura média global abaixo do limite do grau e meio é proteger 11 milhões de pessoas de serem expostas a ondas de calor extremas e mortíferas; é evitar que 10 milhões de pessoas vejam as terras onde vivem e trabalham a serem engolidas pelo mar; é salvar 61 milhões de pessoas dos perigos da seca.

Não esqueçamos, companheiras e companheiros, que Portugal é dos países europeus mais vulneráveis aos efeitos adversos das alterações climáticas. Desertificação, seca, fogos florestais, erosão costeira, aumento da ocorrência e da intensidade de tempestades e ondas de calor, diminuição da produtividade agrícola e degradação dos solos são assunto de notícias diariamente. 

Temos mais números para gritar, companheiras e companheiros.

Ontem, por todo o mundo, marcharam 500 mil pessoas pela justiça climática, pela mudança sistémica, e pela devolução do poder às bases!

Só hoje, aqui, em Lisboa, somos mais de mil!

Os que os media chamam de “líderes globais” discutem como impingir novos mecanismos de mercado ao povo em nome do clima… discutem maneiras de reconfigurar as formas de acumulação de riqueza que continuarão a beneficiar, só e apenas, aqueles a quem a nossa luta incomoda!

A justiça climática não nos será entregue por aqueles que lucram com as injustiças.

A justiça será exigida por nós, que nos juntamos na rua para imaginar e construir o futuro onde a única contabilidade que interessa é a de que privilégios abdicarão os mais ricos e poderosos para garantir os direitos de todas as pessoas.

Para a maioria das activistas do mundo a luta não passa por uma marcha ao sol, entre amigos, pelas ruas de uma cidade europeia. A luta não é fácil, companheiras e companheiros. Mas ignorar os sinais do clima e as injustiças do sistema capitalista é impossível. Cruzar os braços não é opção.

A luta está longe de terminar; faz-se todos os dias; frente ao greenwashing na nova lei do clima aprovada na Assembleia da República; frente aos negócios que estão a ser fechados na COP; e frente às empresas que sobreexploram as pessoas e o planeta.

Mas convosco, companheiras e companheiros, a luta é uma festa!

A luta continua!

Obrigada!

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