Ativismo

Vestir para o ativismo

A convite da Fashion Revolution Portugal apresentei, no dia 21 de abril, um webinar sobre olhar para a moda como indústria integrante de um sistema capitalista, supremacista branco, patriarcal, heteronormativo e capacitista, pensar o vestir como comunicação e usar a roupa como meio para sermos ativistas muito para lá do consumo.

A moda opera dentro de um sistema económico assente no crescimento perpétuo e na prossecução do lucro acima de tudo o resto, responsável por perpetuar o colonialismo, o white saviourism, a apropriação cultural, o racismo, a escravatura e a precariedade, para não falar da poluição, do desperdício e da sobreexploração de recursos naturais.

As empresas, de moda e não só, com espetaculares técnicas de marketing, fazem-nos acreditar em falácias.

  • “Só se produz o que se vende.”
  • “Se não comprassem não vendíamos.”
  • “Não temos como saber o que se passa na cadeia de valor.”
  • “A responsabilidade sobre o impacto é de quem compra.”
  • “A roupa chega aos aterros por culpa do consumidor.”
  • “Se o consumidor quisesse as empresas mudavam para melhor.”

O que isto transmite é que A CULPA É DO CONSUMIDOR. E, por consequência, que é O CONSUMIDOR QUE TEM PODER PARA MUDAR AS COISAS PARA MELHOR. Esta é uma falácia neoliberal, assente em privilégios económicos, de tempo, de acesso a informação e de conhecimento para a interpretar, que não são a realidade de todas/os.

Ora, é verdade que o consumidor pode:

  1. Pensar mais e consumir menos.
  2. Cuidar melhor da roupa.
  3. Reparar ou alterar o que já tem.
  4. Pedir emprestado.
  5. Trocar.
  6. Alugar.
  7. Comprar usado.
  8. Criar.
  9. Reclamar.
  10. Votar com a carteira.

Já enquanto cidadã/o, podes ter muito mais impacto:

  1. Informar-te.
  2. DENUNCIAR publicidade enganosa, políticas laborais discriminatórias, condições de trabalho indignas, crimes ambientais, etc.
  3. QUESTIONAR os responsáveis (em loja, por email, por carta, em formulários de contacto, em reviews de produtos, nas redes sociais…)
  4. Participar em consultas públicas de processos legislativos ligados a lis laborais, comércio internacional, agricultura, igualdade de género, educação, g gestão de resíduos, energia, água, ordenamento de território…
  5. DEBATER em família, com amigos, na escola ou no trabalho, temas como as consequências do cancelamento de encomendas de grandes marcas durante a pandemia, as condições de trabalho na indústria da moda, o impacto da produção de fibras, a crise climática, a intersecção destes temas com questões de género, raça e perfil socioeconómico, o mercado de resale, a reciclagem, etc.
  6. Assinar petições que visem, por exemplo, uma transição energética justa (mais eficaz que boicotar o poliéster é impedir a exploração de petróleo em Portugal).
  7. Fazer CRAFTIVISM.
  8. Organizar ou participar em EVENTOS.
  9. Ser um IMPACTFLUENCER e levares a luta para as redes sociais.
  10. MANIFESTAR-TE.

Podemos ainda usar a moda como meio de comunicação e vestir a causa:

  1. Pensa no que diz o teu ESTILO.
  2. Escolhe um ESTILO que não te facilite a negligência de valores.
  3. Contribui para a normalização da REPETIÇÃO de looks.
  4. Conta HISTÓRIAS com e sobre a tua roupa, online e offline.
  5. HONRA E PRESERVA heranças têxteis e tradições do vestir.
  6. Não te apropries de símbolos religiosos, espirituais ou culturais em nome do estilo (como bindis, kimonos, rastas, etc.).
  7. Não faças publicidade gratuita mostrando marcas que não estão alinhadas com os teus valores naquilo que vestes.
  8. VESTE PALAVRAS DE ORDEM, mas garante que a produção não violou a causa que defendes.
  9. Não limites as meninas ao COR DE ROSA e os meninos ao AZUL.
  10. Usa a moda para DESAFIAR PADRÕES NORMATIVOS.

E lembra-te: ninguém muda o muda o mundo sozinha/o. Encontra uma comunidade de pessoas que pensem o mundo como tu. Pesquisa as hashtags que partilho de seguida na tua rede social favorita e pergunta à Fashion Revolution Portugal como podes ajudar. Vemo-nos na rua!

#WhoMadeMyClothes

#WhoMadeMyFabric

#WhatsInMyClothes

#LovedClothesLast

#PayYourWorkers

#EndUyghurForcedLabour

#SustainabilityAgainstShame

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